14 outubro 2012

Vinicius de Castro, um fotógrafo sob a lente dos Astros.


Esse texto foi escrito em 2010, como um presente para meu grande amigo, Vinicius de Castro.
Ele resolveu guardá-lo para divulgar juntamente com uma exposição que vinha preparando.
No entanto, em outubro de 2012, uns dias antes de seu aniversário, ele partiu em espírito para dimensões superiores. Agora, deixo aqui minha visão pessoal, arquetípica e astrológica desse menino eterno e carente que tanto sofreu e amou nessa vida.
Minha pequena homenagem.
Te amo.

Vinicius de Castro nasceu no dia 10, no mês 10 e no ano 77. Seu número poderia ser o um, o dez, ou mesmo o oito, que corresponde à soma de todos, mas não, ele prefere o Sete. Seu número da sorte.
E como todo herdeiro das vibrações netunianas do místico Sete, é sensível, imaginante, visionário e artista.
Seu signo também é o sétimo da roda zodiacal e além do Sol, Mercúrio e Plutão também buscam equilíbrio na super balança libriana do seu mapa astral. Expressando seu talento como fotógrafo, pôde unir arte e relacionamentos. Imagem e pessoas. Ideias, proporção, bom gosto, criatividade e gentileza.

Três vezes libriano, Vini sorri agradável e tem maneiras de gentleman. Com um desejo sincero de agradar, é sempre receptivo e gentil. Solícito, considera o outro e garante reciprocidade.
Ao se relacionar com seus modelos nas deliciosas sessões fotográficas, permite a liberdade de ser e estar. Se abre a sugestões, concede atuação e conforto aos que estão do outro lado de sua mágica Nikon.



Co-opera. Não impõe, avisa o que é bom, sugere. Atua sem pressão, mas está claro quem conhece todas as nuances de uma intuitiva iluminação e o momento preciso de consumar o click perfeito.

Inteligente e mental, poderia ser simplesmente conceitual e cheio de ideias límpidas, mas é possuído por cores fortes e facilmente se conecta com o instintivo e o visceral.
Ele voa no ar, mas está de passagem, em preparação para o mergulho no oceano de sensações profundas.
Quando a simétrica estética libriana vê o mundo através do ascendente Câncer, sentimentos desregrados e caóticos fluem, o mundo gira e a imaginação faz o caleidoscópio girar.
Dançam fluxos e refluxos de maré emocional. O sentido intuitivo dos ritmos do ser gera... Cadência. As garras tenazes agarram os sentimentos fortemente. Amores intensos, raivas fulminantes, dores que duram e se vão. Renascimento.



Drama, excesso, gargalhadas, maquiagem e sombras carregadas. Álcool forte, bruxaria. Seu portfólio é a consagração da intensidade. Sob sua ótica, o kitsch fica chic e o mistério ainda mais misterioso.


Em sua primeira exposição individual, “As Sete Cores Do Pecado”, registrou os pecados capitais em sintonia com as cores do arco-íris. 7x7.
Quando criou as fotos de “No Museu”- exposição de 2005 no MAC- encontrou em preto e branco, simetrias e formas inéditas no próprio Museu de Arte Contemporânea de Goiânia. Mais sombras e mistérios que o óbvio da vista concreta.



Em “Mergulhos de Luz”, Na Galeria Frei Confaloni, experimentações de luz criaram espectros que uma vez mais, evocam a simbólica abstrata do primeiro signo do elemento água.
No mais lunático dos ascendentes, a Lua rege as marés e o mapa astral. O divino agora é fêmea. Percebe-se pelas divas que lhe encantam e tantas vezes encarnam. Marilyn Monroe, Jessica Rabbit, Úrsula a bruxa do mar, Elke Maravilha, Juliette Lewis, Mamãe Oxum...



Também são muitas as mulheres imortalizadas por sua lente. Com ele, o feminino se encontra orgulhosamente fotografado. 
Vini gosta de registrá-las com facetas abertas, francas, escandalosas e dominadoras. Seios, vagina, útero, bocas, lágrimas e os corpos puros em suas formas naturais, idades reais e pesos generosos.


Nada de estéticas comportadas! Nada de doméstico e convencional! O vulgar e o feio sob suas lentes ficam valiosos e lindos. Ele vê além. E além, chega ao sublime.


Assim, com tal lente mágica e abrangente, também retrata crianças. Sempre com sensibilidade e encanto, sempre como se vê a si mesmo. Foi criancinha de ouro, cheia de charme, filhinho de avó, ganhava no sorriso e no amor. Guardou essas lentes saturadas do passado e assim fotografa. Assim vive e mora.

Coleciona sapos, santos, entidades e obras de arte. Todos habitam seu lar e se mesclam com as paredes coloridas. Coloriu o corpo com tatuagens de seus desenhos preferidos, cozinha bem, cuida de bichinhos, de cactos exóticos e dezenas de plantas. É a própria Grande Mãe de sua Criança Eterna.
O signo de Câncer, já tão bem expresso, ganha dimensões astronômicas e espirituais com Júpiter também por ali. Então as temáticas da fé chegam para abençoar.  
Sorte, guias protetores, salvadores.
Consciência dos planos superiores da vida.
Otimismo e sucesso.
"Só notícia boa!"

E os seres do outro plano também são modelos de sua imaginação mística. Candomblé contemporâneo, sincretismo moderno, deidades em cores e filtros de efeitos especiais.
Em um ensaio sublime, mergulhou figuras sacras em água e com filtros coloridos diversos criou uma seqüencia onde os efeitos nos fazem imaginar o nume dos céus.


Ainda brincando com água, derramou algumas gotas sobre negativos que com o tempo criaram fungos. Sobre as imagens, se revelaram lindas interferências orgânicas nas fotos de sua exposição “Cortiço Aurora”, de 2003.



Em meio a santas e putas, entre madonas e pombas giras, Aphrodite Porne dá o ar da graça em Virgem, onde encontra também a Lua.
Com as patronas da criação no signo da ultra realidade, a arte é a saída natural de expressão para suas visões interiores de glamour e decadência. E o talento para manusear e transformar tal terra, veio junto no kit virginiano.
Talento para registrar e talento para ser. Com seu histórico de superações pessoais, gira na roda da Gira sempre rumo à evolução.

Sabe instintivamente o que os outros querem e precisam, tem como destino considerar o outro, mas sabe bater o pé e dizer chega. O radar do limite é calibrado para avisar quando é hora de pensar mais em seu amor próprio.
Entre a pessoa e o artista, é difícil definir um só. Vive a arte que fotografa, talvez por isso seja tão querido pelas galerias que querem divulgar seu acervo em alta resolução. Entende, circula, está.
Vai aprendendo no movimento que a todos não se agrada nunca e que em cima do muro não é lugar para artistas de verdade.

Muitas facetas, muitas experiências, muitos amores e milhares de flashes. Do depravado ao misterioso, do sagrado ao profano, do preto e branco à saturação de cores e tantas vezes do inferno ao céu, Vinicius de Castro não perdeu nenhuma oportunidade de registrar e guardar em seu acervo canceriano de recordações, lindas e fortes imagens.


Continua registrando, realizando parcerias e brindando champanhe com as entidades quando a noite é longa, insone e criativa. Mesmo independente, quer sempre unir forças. Sabe que, em suas palavras: “um derruba sete, mas que dois derrubam sete mil”.

No fundo, o que interessa para seu instinto de feedback é que "Seja bom para todos!"
Todas as fotos desta publicação são do acervo de Vinícius de Castro
1977-2012

Pra sempre em minha memória e em meu coração!

"Pedras Roxas Forever"

20 junho 2012

Entrevista para o jornal O Hoje: SIMPATIAS




Para você as simpatias tem efeito?

As simpatias são resquícios de uma consciência ancestral e primitiva, onde ainda havia um diálogo mais espontâneo entre nós e os símbolos.
Antigamente, antes da era da razão colocar a ciência e a lógica no pedestal da onisciência, toda uma gama de rituais e simpatias era usada para descobrirmos coisas secretas e conseguirmos nossos objetivos, contando com a fé, a esperança e os poderes psíquicos. A simpatia é uma atividade lúdica, uma brincadeira, mas que ativa nosso lado espiritual, pois esperamos que algo além da realidade material atenda os nossos pedidos. É claro que ela não deve ser levada tão a sério, mas vale à pena brincar, sem muitas pretensões. Devemos considerar que quando fazemos algum ritual, é como uma magia, uma oração. Expressamos nosso desejo para o universo. Este exercício da vontade é que realmente tem valor, pois colocamos em movimento nossos sentimentos alinhados com o poder do pensamento. E quando um desejo é intenso e sincero, desperta infinitas possibilidades de realização.


Porque as questões místicas são tão fortes entre as pessoas?


A ciência e a tecnologia nos trouxeram inúmeros avanços e vantagens inegáveis, mas também produziram desejos de controlar a natureza humana e a necessidade de provas empíricas para todo e qualquer fenômeno. No entanto, a necessidade de símbolos, metáforas, a comunicação com o invisível e os rituais de fé continuam intrínsecos em nossa natureza. Não somos apenas racionais. Somos constituídos de sentimentos, mistérios e alma. Também somos seres espirituais. Misticismo significa ter experiências diretas com o sagrado, independente de credos e religiões. Por mais que a razão nos explique quase tudo, sempre haverá verdades que a limitação de uma abordagem lógica jamais alcançará. E no fundo, os corações mais sensíveis sabem disso.


A vida seria possível sem essas simpatias, por exemplo, sem os acordos com santo Antônio?


A vida é possível de várias maneiras. Mas ela é mais agradável quando em saudável equilíbrio. Excesso de ceticismo causa depressão, vazio interior, solidão existencial e tédio. Excesso de crença pode causar fanatismo, rigidez, moralismo, imaginação mórbida, medos e fobias. Cabe a nós buscarmos um caminho que satisfaça nossos questionamentos e nos permita um diálogo tanto com os esclarecimentos da razão quanto com o conforto e a paz interior que a espiritualidade bem vivida proporciona.

03 junho 2012

O Cazimi redentor: Vênus em Gêmeos chega ao coração do Sol.

 
Os primeiros capítulos dos desenhos celestes que se formam essa semana no céu já começam dramáticos e misteriosos. No dia 04 de junho o Dragão Rahu engole a Lua, ou pelo menos parte dela. Um eclipse lunar oculta parte de nosso satélite e abre as portas que separam os mundos. Enquanto a escuridão desperta energias caóticas no mundo que teme o poder do invisível, Ketu, a cauda do Dragão, abraça o Sol e inaugura as conjunções com a estrela de fogo da fortuna. Nodos lunares se alinham com Sol e Lua. Quem somos nós para interpretar tal magnitude? Os antigos usavam infinitas metáforas. Mais que definições, devemos buscar respostas em nosso imaginário e no roteiro dos mitos.

No dia seguinte, acentuando o poder e a raridade do movimento celeste atual, Vênus em Gêmeos chega ao grau 16 deste signo, sincronicamente com o Astro Rei, fazendo dos dias 05 e 06 de junho o marco de um Cazimi inesquecível. Quando um planeta se une em graus exatos com o centro da grande estrela de nosso sistema, dizemos que chegou ao “Coração do Sol”. Raro e simbólico, este acontecimento conclui um ciclo que começou em 2004. Arremates e renascimento para os temas regidos por Vênus.



Recebendo a força do Sol em um aspecto tão forte, Vênus também será purificada e curada. Temas femininos reverberam neste encontro. Poderemos inclusive observá-lo desde nossa nave Terra. Será lindo ver o pequeno planeta do amor transitando diante da fonte de luz e consciência de nossa galáxia e emanando miríades da quinta essência pelo universo...
E o que poderíamos esperar de um encontro tão cordial entre a deusa Vênus e o deus Sol?


Não esperemos milagres coletivos. Façamos arte com tal beleza inspiradora. Imaginemos infinitas possibilidades de expansão do símbolo até que os instintos se traduzam em imagens manifestadas em nossa vida. Mentalizar amor pela existência, pelos seres vivos, pelo planeta. Algo individual e íntimo. Um olhar de cumplicidade para os astros com uma inspiração de esperança já é uma forma de comunicação.


Dizem que Afrodite (Vênus) e o deus Apolo (Sol) um dia tiveram um filho: Himeneu. Sabemos, portanto, que essa união é frutífera, já nos diziam os gregos. Nos domínios do terceiro signo a conjunção se dá pelo elemento ar e sopra os ventos da mudança, enquanto o poder do pensamento se eleva às oitavas superiores.


Vênus em Gêmeos preza a conexão mental; a união de ideais que gera o amor amigo; a leveza das relações que sabem trabalhar luz e sombras; a dualidade bem embaralhada na dinâmica do autoconhecimento mútuo; as incongruências que confundem os mais inflexíveis e a maravilha de ser imprevisível num mundo que prefere aprisionar as formas, organizar a criatividade e contar o tempo em horas.


Quando o Sol, desde seu centro, joga luz nesse slide hermético geminiano, colocado diante dele pelo planeta feminino da beleza e do amor, acentua os contrastes, questiona o estabelecido, movimenta as estabilidades, mas também, abre a consciência rumo à evolução. A intenção é o equilíbrio, mas através de forças dinâmicas de atração, controversas ou não. O amor se intensifica e novas formas de harmonia se iluminam, tanto fora, quanto dentro de cada um.


O casamento de opostos ocorre antes de tudo, em nosso interior, na vivência e aceitação equilibrada das polaridades. Na dança fluida do Yin e do Yang, alternando os passos entre o masculino e o feminino, tanto dentro do homem quanto da mulher. Toda rigidez será castigada. Basta observar a infelicidade subjacente ou mesmo óbvia, dos preconceituosos. Não há unilateralidade fértil, muito menos feliz.


O casal cósmico sabe disso e se une além da matéria. Num plano além dos limites e das contradições, onde só a alma, em forma de luz, é convidada para a cerimônia. É no íntimo que se dá a união dos contrários e que a totalidade é concebida. E é lá, no âmago, que Vênus tocará o Sol.


O interior refletirá o exterior e sincronias serão ativadas. Longe dos nossos olhos ou debaixo dos nossos narizes, a mágica acontecerá. Talvez nada seja notado e os dias passem cinzas e normais. Com certeza essa é a mais provável das hipóteses. Mas é importante saber que alquimia, sintonia com o espírito da época, mediunidade interplanetária e conexão mística com o universo não é como receita de bolo, que no fim dá em algo sólido, palpável e agradável aos sentidos. É uma linguagem, uma filosofia de vida, uma maneira de encontrar significados e de dialogar com as dimensões além e adentro. Alguns botam muita fé, se fanatizam, esperam recompensas dos deuses planetários. Outros duvidam cegamente, respaldados pela Era da razão e drásticos em seu ceticismo. Como me ensinou o mestre da dualidade, Mercúrio com seu caduceu, prefiro ser qualquer coisa intermediária e apostar no poder da inteligência intuitiva.

Dizem que Himeneu era belo como seus pais e regia o casamento. Pois eu vou mandar minha alma assistir a essa boda celestial. Assim, sem pretensões. Mas vai que ela pega o buquê... Ando precisando de bons auspícios aqui em baixo, nesse mundo de densidades, ilusões, solidão e falta de sentido existencial.
 
Olaf Hajek
 

21 junho 2011

O solstício do menino João

 

Adoro solstícios e equinócios. Entradas de estações, mudanças de signos cardeais e todo um reflexo encantador no clima e na natureza. Efeitos que nós humanos, a cada dia estamos mais distantes de perceber.
Para nossa evolução que segue invertida em seus valores, datas importantes e inesquecíveis são aquelas em que comemos muito e gastamos mais ainda.
Nem é minha intenção questionar a maravilha que é um banquete seguido de presentes... Mas é no mínimo muito infeliz que o sentido original das celebrações e rituais da natureza tenha ganhado uma aura tão desencantada.

É bastante curioso, para não dizer tragicômico, reparar nas festas de comemoração mundial e perceber que em sua grande maioria, o seu contexto original se baseava em dias em que a natureza e os planetas se correlacionavam de forma importante, principalmente em relação à trajetória solar. Com a super propagação do cristianismo, a igreja mafiosamente preferiu não se opor diretamente à continuidade dessas práticas, mas obviamente elas receberam vários significados adicionais, todos eles devidamente ilustrados com as temáticas cristãs. Ao se apossarem do calendário e lhe enfiarem novas roupagens de acordo com seus interesses, foram fabricando novos símbolos e conquistando milhões de novos adeptos para eles.

Essa manipulação é de domínio público, ou pelo menos deveria ser, mas a falta de consulta à história se encarregou de apagar essa verdade tão dolorosa aos fiéis da nova ordem mundial. Mas eu adoro história, principalmente os registros a.C. Talvez por isso me divirta tanto com os solstícios e equinócios, observando como hoje são vivenciados pelo coletivo.

Isso não quer dizer que eu me recuse a participar ou que seja fundamentalista ao ponto de boicotar todas as festas culturais que restam à humanidade. Me interessa mais que nada, estar consciente de seu significado original, este que se apaga cada vez mais. Já me sinto satisfeita em conhecê-lo, admirá-lo e cultuá-lo. Se não participativamente no mundo da maioria, desde meu silencioso conhecimento arcaico e de minha antiga alminha pagã.

As festas juninas são uma maravilha de retalhos simbólicos. No princípio quando era o Verbo, também era o solstício de câncer, a chegada do verão no hemisfério norte e uma celebração mais conhecida como LITHA. A primavera se despedia e o Sol voltava a brilhar mais forte, poderoso em seu zênite, anunciando a nova estação no dia mais longo do ano. Trata-se de um dos rituais mais importantes dentro do ciclo anual desde o período neolítico, de um culto ao deus Sol de caráter universal e atemporal.

Os pagãos (que significa "habitantes do campo") profundamente conectados com as mudanças climáticas e cíclicas da natureza e mais ainda com sua participação nessa unidade simbiótica com o planeta, festejavam o retorno do Sol com fogueiras, cores vivas, música e comidas.
E assim - após uma reciclagem digamos, cristiana - com esses mesmos materiais básicos, hoje em dia se comemora São Pedro, Santo Antonio e São João. Temos então os três santos do forró e as festas de junho ou juninas.

No Brasil, enquanto quintal e depósito de Portugal, a assimilação foi plena e a população sertaneja foi o terreno perfeito para sua sincretização com as temáticas rurais. Dos jesuítas, direto para o Nordeste, a moda pegou geral. Verão por lá, inverno aqui, não importa. Bora pular fogueira iaiá!

As fogueiras e as fitas coloridas se juntaram às roupas caipiras, às quadrilhas, às comidas típicas e hoje ninguém dispensa um quentão com canjica num arraiá mais próximo. E porque deveria? Todos nós temos lembranças divertidas de alguma época em que nos vestimos com roupas xadrez, chapéus de palha e sentimos aquele cheiro de pólvora tão típico do mês de junho...

Se aproxima o dia de São João, o priminho mais velho de Jesus, também conhecido como o "santo festeiro". Se ele realmente nasceu dia 24 de junho, foi um lindo e meigo canceriano. Que sorte a dele, pois seu aniversário hoje é celebrado mundialmente, pegando carona na antiga festa pagã do solstício de verão. Tudo a ver para quem foi o “precursor da luz no mundo”.

Dizem que quando ele nasceu sua mãe acendeu uma fogueira e no mastro colocou um boneco para que Maria, a mãe de Jesus, soubesse de sua chegada. Também existe em sua história, uma explicação para os fogos de artifício... Interessante, no entanto, foi o artifício de roubar os símbolos da história que vinha antes.

Mas é interessante notar que todos esses símbolos passam por releituras, mas são potentes o suficiente para jamais serem manipuláveis, ainda que por instituições poderosas que tiram proveito do grande poder do inconsciente coletivo. Sua capacidade de manifestação e sua amplitude de interpretações são tão surpreendentes que só mesmo as mentes mais abertas à pluralidade podem dimensionar sua capacidade de seguirem vivos e atuantes no imaginário da espécie humana.

Aí estão as festas juninas abrindo com seus rituais de alegria, festança, comidas e casórios a chegada da nova estação, enquanto a temática canceriana está mais viva que nunca.

Conectados com as raízes, com o passado mais simples e acolhedor, com as origens no campo, estamos automaticamente celebrando símbolos lunares. A boa comida, em pratos típicos que lembram a cozinha da vovó, sempre com algum doce famoso da época, reflete a nutrição, tanto física quanto a emocional tão típica do simbolismo do caranguejo. E as crianças, que sem dúvida são as que mais se divertem, pois a festa é para elas. São elas que atraem os adultos, para uma festa tipicamente familiar, onde as gerações se divertem juntas e reforçam seus laços afetivos e a sensação de proximidade e descendência.

Está tudo aí, em releituras, mas completamente presente.
Quase posso ver o menino João e seu olhar carinhoso, observando tudo lá de cima das fogueiras, perto das estrelas e da Lua Cheia. Quem sabe, com algum adorável filhote nas mãos, símbolo do cordeiro de deus, mas muito antes, da vida nova, do renascimento do Sol e do infalível e abrangente instinto maternal do signo da Grande Mãe...

22 março 2011

A eterna criança Áries

Arianos de Sol, Lua, Ascendente, Marte em evidência...
Todos têm um destino básico a seguir:
A corrida rumo à conquista.
Seja ela qual for.

Áries é o primeiro dos signos, o que abre o calendário astrológico, o que anuncia novos tempos. Como a primavera, rompe velhas energias invernais a fim de provocar renascimento e fertilidade.
É o recém nascido cósmico que já chega gritando e avisando que veio para causar. Eis porque ele sempre olha para o futuro com esperanças e desejo de sorver a vida gulosa e deliciosamente.
Independente da idade real, os carneirinhos do zodíaco têm a consciência de uma criança e para eles, conhecer e experimentar é sempre um prazer. Aventura e novidades, uma necessidade.
Sendo assim tão infantis em seu espírito, todas as características de um bebê serão símbolos do caráter ariano. A mais notável a primeira vista sem dúvidas, além dos berros insuportáveis quando querem algo, é a inocência.


Áries acredita sempre.
Deposita esperanças, espera o melhor até que lhe provem o contrário. São a priori, almas puras, e mesmo sentindo na pele, incansáveis vezes, quão sórdida pode ser uma criatura humana nesse planeta, nunca perde de vista a tal luz no fim do túnel e sempre volta a acreditar uma vez mais em sua espécie. Por isso, é tão comum ver arianos contando com o melhor das pessoas, às vezes talvez, até exigindo demais.
No entanto, a recíproca é verdadeira e se você esperar o melhor dele, e confiar em sua natureza sincera e solar, dificilmente ele te decepcionará.
Como a carta zero do tarot, O louco (The Fool), pode ser bastante ingênuo, mas não quer dizer que seja tolo, apenas que olha o mundo com uma esperança prévia de que tudo serão flores, como a primavera que lhe representa. São otimistas por natureza.
Pode não ser naturalmente astuto, mas vai aprendendo com o tempo e com as decepções que ser boa fé e confiar em todo ser humano indiscriminadamente pode ser bastante frustrante.
Pelo menos sempre superam as quedas cheios de disposição, afinal, crianças estão em constante aprendizado, caindo e levantando, conhecendo o mundo que existe mais além dos seus olhos sonhadores.

Crianças também são brutalmente sinceras.
Ainda imaculadas dos artifícios de manipulação, chegam a constranger quando falam o que pensam. Não seria diferente com os carneiros, doutores em bater uma real.
O primeiro dos signos de fogo expressa a capacidade espontânea e agressiva do elemento. É como se toda a energia da personalidade se concentrasse na expressão direta e clara, sem demais delongas e subterfúgios.
O ariano despreza questões irrelevantes e sempre vai direto ao cerne de uma situação. Justamente por ser tão simplório, não espere dele, sórdidas manipulações e muito menos repressão de sentimentos seguida de ruminação raivosa silenciosa.
Ele pode ser até overdose na franqueza, mas jamais irá depurar veneno nas suas costas, enquanto sorri singelo e afetuoso.
Se ama, faz saber. Se odeia, mais ainda.

É certo que em um mundo dissimulado e cheio de camadas, esses filhos de Marte, sempre serão considerados grossos, sem tato, exagerados, punk metal. Bem, muitas vezes são mesmo.
Em geral eles sabem disso... E adoram.
Arianos não fazem questão de agradar se for à custa de suas verdades.
Querem ser amados pelo que são, pois o que eles próprios mais amam no mundo, são pessoas como eles: sinceras, cheias de amor-próprio e com muita atitude.


Eles tocam o terror, mas não guardam rancor.
Quem souber reconhecer que na verdade são extremamente francos e não suportam hipocrisia, conhecerá o poder de um relacionamento sem aquelas correntes subliminares de dúvidas, recalques e ruminações. Quando todas as cartas estão sobre a mesa, a confiança mútua floresce e tudo fica mais leve. Crianças não são assim? Voluntariosas, estimulantes, corajosas e transparentes?

Um ariano covarde e dissimulado é alguém que foi registrado no dia errado. Ou então, é alguém tão inconsciente de sua verdadeira natureza que pode sofrer de crise de identidade e de complexos extremamente patológicos. Perdidos em si mesmos, devem padecer de terríveis dores de cabeça e invejar o próprio Sol...

Cazuza e Renato Russo, por exemplo, foram arianos standard. Ambos questionadores do status-quo . Escancarados e provocadores, deixaram em suas músicas a pura poesia da alma áries declarada. Em todas as suas letras podemos encontrar o manual de instruções do primeiro signo. Foram carismáticos, rebeldes, excessivos, apaixonados e infelizmente, golpeados duramente por sua própria falta de limites. Foram heróis e morreram cedo, consumidos por sua intensidade.

O Sol, estrela magnânima que em áries se exalta e manifesta todo seu significado potencial, representa em sua plenitude a personalidade desses nativos: clara, iluminada, penetrante, consciente, calorosa e imponente. Em excesso, queima e irrita. Entra em combustão. Atributos solares sempre estarão presentes na personalidade ariana, tanto em qualidades, como em defeitos.

O astro-rei também é símbolo da consciência e do ego. A luz solar representa o brilho do autoconhecimento, com isso, a identidade e o carisma são noções básicas que o indivíduo reconhece em si mesmo. Inclusive é famosa a vaidade ariana. É super natural que os carneiros se amem e tenham uma boa relação com eles próprios. Se sentem como canais de vida por onde a energia solar se expressa e buscam um estilo diferenciado para desfilarem autênticos.

Muito além de simples autoafirmação, o que acontece é uma real percepção de seu poder de ser e de atuar. São destemidos e adoram enfrentar desafios. Sentem que são quase imortais, que o mundo é pouco para eles e que vieram aqui para reformar o que não está certo. Com esse caráter idealista e combativo, não sobra realmente muito espaço para a humildade.
Por isso, o pecado do egoísmo está sempre rondando sua aura exuberante. Sabemos que a primeira palavra que a criança repete incansavelmente é eu, eu, eu. Ela é o centro do seu universo e fará tudo para saciar suas necessidades básicas.

Se por um lado existe o risco do ariano se tornar insuportável por não ver mais nada além de seu empolgado umbigo, por outro é um dos signos que mais desperta a inveja ao seu redor. Tanta autoconfiança incomodará por demais aos menos favorecidos, infelizes consigo mesmos, afinal, as pessoas têm o direito de serem medíocres, não é mesmo? Não as de fogo.



O elemento fogo quando aceso já mostra sua natureza magnânima e quente sem fazer esforço e como a luz, atrai as mariposas. No entanto, não há como exigir que uma chama seja discreta.

Arianos sabem disso e não sentem necessidade de diminuir ninguém. São generosos nesse sentido, pois estão satisfeitos com sua pessoa e adoram manifestações acaloradas de idéias e criatividade fluindo coletivamente. Em contrapartida sempre encontram pessoas que consciente e até inconscientemente se sentem na obrigação de apagar o fogo alheio. Jogam terra, água, assopram...

Conflitos existem e sempre que tenha um inimigo honesto, o duelo será justo, equilibrado e até uma derrota honrosa ele é capaz de aceitar (mesmo que jamais admita, claro). O que derruba um ariano por nocaute é o tiro pelas costas. Energias veladas e traição são sua kriptonita.
Portanto é necessário que aprendam sobre sutilezas, mensagens subliminares e energias reprimidas exalando enxofre para se defenderem melhor dos vampiros de plantão, sedentos por um sanguinho Reserva Especial.

Dizem que Buda era um iluminado do signo de Áries. Pensa o nível de evolução da criatura... Como o mestre oriental, todo ariano deve aprender características de seu signo oposto, libra, para ser pleno e equilibrado em sua totalidade.
Se conseguirem demonstrar mais calma e menos desespero, aprenderem a escutar com interesse, a considerar o outro, serem gentis e também a se desculpar às vezes, serão os verdadeiros líderes carneiros no planeta terra.
Também devem aprender qualidades de Saturno, como a disciplina e a paciência. Trabalhando essas virtudes complementares, se transformarão no que realmente mais lhes importa: Em seres livres, realizados e muito mais queridos e amados.

Pois é... Alguém poderia imaginar que os durões do zodíaco são completamente susceptíveis às pessoas que eles querem bem?
Alguém acreditaria na faceta ultra-romântica do signo da guerra?
Os que os conhecem bem, sim. E qual é o signo que representa os sonhadores cavaleiros românticos medievais? Qual é o signo da estação das flores, onde a natureza se faz fértil e amorosa para que as criaturas se unam em abraços intermináveis? Qual o signo do vermelho, fogo e paixão? (Wando é libriano, não se preocupem arianos)
Se eles gritam, brigam, xingam e batem as portas, não quer dizer que eles não amem. Já parou pra pensar que pode ser porque eles amam demais?

Áries é um signo bastante paradoxal e intenso. Com índole impetuosa e sangue quente correndo nas veias, essa pessoa ama e odeia em frações de segundo. Não suporta que grudem no seu pé, mas perde o interesse se não recebe nenhuma atenção. Morde e assopra. Adora manifestações sinceras de afeto, mas seja piegas e o perca para sempre. Negará até a morte que seja ciumento, mas já hostilizou muita gente que se meteu com sua paixão do momento.

Muitas vezes não demonstra o que sente por orgulho, mas em uma recaída pode te atacar ferozmente sem nenhum pudor. Acredita facilmente no que escuta, mas se for enganado, é implacável no “adeus”.
Acha que ama, acha que odeia, tudo é tão forte, se embriaga de sentimentos e então... Esquece. Agora só sente amor próprio e a vida continua.
Amor e guerra não são opostos dentro dele, são digamos... um casal em eternos tapas e beijos. E é justamente sua necessidade de relacionamentos que aplaca sua agressividade nata.

São bichinhos birrentos, apelões e eternamente dramáticos. Quebram seus brinquedinhos, tentam te bater e gritam: Não, Não e Não! Logo as crises passam, rápidas como sua raiva, e pelo menos eles, já se esqueceram de todas as pragas proferidas ao vento e só têm amor para dar.
Existem alguns mais temperados e tímidos, mas cedo ou tarde o vulcão entra em erupção, não duvide.

Como Marte é instinto puro, intuição e álcool forte, são viciados no poder do primeiro impacto. Sabem que a maioria das vezes o que não lhe “balançou” de primeira, não terá muitas chances de agradar na segunda. Não é uma regra, e podem sim ser conquistados, mas o frisson de um “à primeira vista” pode persegui-lo por muito tempo. Sente instintivamente o potencial das coisas e assim toma suas decisões e também se apaixona.

Arianos são considerados fodões. Muitos adotam uma postura de implacáveis e realmente o são. O mau-gênio ariano tem fama além de Plutão e até as fêmeas da espécie às vezes exalam uma aura de dama de ferro, “jamais sentirei fome novamente”. Mas se reparar bem, seus olhinhos infantis brilham demais para enganar completamente o bom observador.
Mas alguém já parou para pensar, por quê?
A imagem do carneiro que o representa explica bem.




Branco, felpudo e dócil, animal do sacrifício, o cordeiro de deus que tira o pecado do mundo simboliza a pureza e a ternura. No cristianismo se tornou um símbolo do filho de Deus. Já em sua versão com chifres longos e curvilíneos é um potente símbolo pagão de virilidade e uma investida desse animal não é nada nada digamos, cristã.

Também muito representativo é o aríete, do latim arìes, carneiro.
Essa clássica arma medieval demonstra o poder decidido de uma cabeça ariana quando quer abrir caminho sobre as obsoletas tradições. Arremete contra os obstáculos às marradas e arromba as estruturas, afinal, o novo precisa chegar. “O tempo não pára”.




Assim, arianos são esse paradoxo unificado.
Meigos, simplórios e apaixonados, mas não se atrevam a pisar no seu calinho nem a subestimar seu caráter. A capacidade de reação indignada de um carneiro é de tremer terra, sabem bem os que têm um por perto.

Além de equilibrar esse perfil belicoso com a sensibilidade emocional de um coração super romântico, eles terão que balancear o instinto puro que o planeta vermelho representa, com uma mente bastante poderosa, afinal de contas é a cabeça, além dos músculos e hemácias, a principal parte do corpo regida por esse signo.

Marte é o arquétipo da ação e da força. A personificação do instinto de sobrevivência e do vigor físico. Representa a libido, a energia vital.
Quando influencia fortemente a pessoa, gera um “combustível” fora do comum. Em seu estado puro essa potência pode explodir repentinamente e se dispersar sem rumo. Mas se aliada a um objetivo específico e à vontade consciente, fluirá abalando e vibrando sem freio, conquistando tudo que for desejo. É o diamante bruto da natureza. Lapidá-lo é um trabalho para o intelecto.

Essa conexão direta com Marte garante ao ariano bons reflexos, agilidade e força física, mas também inspira a agressão impensada (tanto verbal quanto física) e ataques de fúria sem noção. No entanto, à medida que desenvolve a mente e abre espaço para que Mercúrio, seu regente esotérico, aprimore essa força primitiva, o ariano elevará esse potencial para o nível mental e poderá atingir níveis altíssimos de QI, um intelecto poderoso e muitas vezes dominador.

Os heróis e seus demônios...

Sem sentido do perigo, um tanto quanto temerários e se achando invencíveis enquanto reine a honra em seu coração, essa criança se sente e sabe que é um pequeno herói ou heroína no mundo cinza dos adultos (leia-se: chatos).
Em termos junguianos, poderíamos dizer que áries é o poder do ego individual emergindo do oceano coletivo. Do grande mar do signo de peixes, a roda zodiacal se reinicia no signo do carneiro precursor. Para afirmar sua individualidade e nova consciência, deve levantar a espada e se libertar das amarras do passado e das sombras obscuras que costumam lhe escravizar.

Arianos são bem mais felizes quando vão além de suas raízes e superam seus fortes carmas familiares, por isso é que são tão atraídos pelo mito do herói, o mais famoso dos arquétipos universais. A saga de ir além do conhecido insuficiente, lutar com dragões e demônios, assimilar novos conhecimentos e voltar modificado está no seu DNA.
Cada um encontrará uma causa pela qual lutar e defender. A sensação de insatisfação crônica será sua maior inimiga e uma vida cheia de emoção, aventuras e vitórias, seu maior sonho infantil.
O motivo de tantos desafios é o desenvolvimento de uma consciência cada vez mais clara e versada nos desafios do mundo inconsciente. Quanto maior a luz, maior a sombra e, assim como o Marte guerreiro, podem ser considerados os “matadores de demônios”.


 Na luta do ego lúcido contra os terrores regressivos do paraíso da infância o troféu é a maturidade. Enquanto o ser humano comum vive inconsciente de sua sombra e seus inimigos internos, o herói é aquele que enfrenta a si mesmo e aprende a retirar sua força do seu próprio lado obscuro, dos seus monstros interiores.

São Jorge e o dragão; Jasão e a conquista do carneiro de ouro; o Homem de Ferro e seu gênio cínico, estilo anti-herói; Siegfried, o herói invencível, a não ser se “atacado pelas costas”; Luke Skywalker e a relação com seu pai obscuro; Hobin Hood e seu idealismo socialista estilo “a burguesia fede” são apenas alguns heróis arianos por excelência.
Joseph Campbell, um herói ariano real e o maior mitólogo de todos os tempos, dedicou a vida pelo tema em livros como “Herói de mil faces, O mito do herói, O poder do mito”...

Para a psique heroica, a vida deve ser uma aventura, por isso, sem ação e entusiasmo os áries podem literalmente adoecer. Se não estão envolvidos em algo que os alimente intelectual e fisicamente, ficam aborrecidos, amargos, frustrados, depressivos e grosseiros. Precisam de uma válvula de escape para seu fogo interior ou podem literalmente, implodir.

Uma das dicas infalíveis para as crianças darem um sossego aos pais é cansá-las bastante com alguma brincadeira que inclua suor e diversão. Tudo que envolva o corpo em movimento em sintonia com a mente devidamente engajada é o elixir do bem estar para eles. Precisam sentir uma conexão entre corpo, sangue e mente para que a vitalidade flua em suas veias e se sintam vivos.
“Sempre em frente, não temos tempo a perder”... Áries não suporta ficar parado e muito menos retroceder. São espíritos inquietos por natureza e o tédio é um verdadeiro láudano para sua alma. Para frente e avante senão não há medicina que adiante.

E nessa corrida sem fim existe sim um objetivo. A independência. Áries não só gosta como precisa ter as rédeas da própria vida nas mãos. Nem sempre esta é uma conquista rápida, mas enquanto não tiver autonomia, esse ser não se sentirá satisfeito. Provavelmente, muitas das crises, dos problemas e das tristezas que sentem têm as raízes na incapacidade de seguir seus próprios passos e escrever seu destino como bem lhe aprouver. Áries não se submete jamais e se é obrigado a fazê-lo, produzirá veneno em suas veias e sua alma morrerá.

Graças ao seu desprezo pelas imposições e autoridades, o que é compreensível, pois crianças são assim, eles adoram diabruras e chamar um ariano para um mal feito é garantir a alegria do dia.
Mais uma dose? É claro que ele ta afim!
Andar em alta velocidade, fazer algo escondido, passar alguns limites, escutar música alta, burlar algumas leis, rir quando não pode, chocar a humanidade, curtir com a cara dos caretas, voar em vassouras as duas da manhã... São coisas que eles simplesmente adoram fazer. São em sua maioria politicamente incorretos, anti-sociais e adoram subverter.
Com seu talento inegável para a loucura, ao lado deles a vida jamais é monótona e normal.
Eles nos cansam sim, são impossíveis, provocadores e indomáveis. Sempre nos arrancam da tranquilidade e despertam muitas vezes nossos desejos mais assassinos de extermínio de carneiros da face da terra. Mas se repararmos melhor... Que sem graça fica tudo sem eles.
No fundo eles movimentam e vibram o mundo material como poucos e enchem os ambientes de vida.

Guardamos mágoas de suas palavras cortantes, mas, pensando bem, é tão bom ter alguém em quem confiar plenamente. Alguém que abomine a traição porque vive no mundo ideal de honra e glória. Como o vermelho, sinalam Perigo! Mas também... Coração.
Quem não tem medo de cores fortes nem da verdade nua e crua, se envolverá.
Sairá queimado e também mais forte. Descobrirá que por trás de tantos armamentos e proteções de ferro, existe a fragilidade e o afeto em estado primitivo. Existe um potencial de amor esperando almas boas e dignas para se deixar desenvolver.

Eles não são somente os guerreiros da história. São os dragões e a própria batalha. São também, o tesouro, a criança eterna, a recompensa para quem, como eles, sempre acreditou em histórias de monstros, heróis e finais felizes.



 

“Almas daqueles que amei, almas daqueles que cantei, fortaleçam-me, apóiem-me, mantenham longe de mim a mentira e os vapores corruptores do mundo, e tu, Senhor meu Deus, conceda-me a graça de criar alguns belos versos que provem a mim mesmo que não sou o último dos homens, que não sou inferior àqueles que desprezo”.

 Charles Baudelaire

Marte, Vênus, Júpiter, Saturno e Sol em Áries

06 janeiro 2011

Estava escrito enquanto escrevo



Como sempre as histórias nos fazem pensar longe...
Reproduzem símbolos da vida real e conectam sentimentos com pensamentos criando imagens e novas realidades. Inspirada por um livro da literatura popular, fiquei tempos pensando no destino do protagonista. E depois, no destino de cada um de nós e então, no meu destino também.
Será que já está tudo simplesmente escrito?

O personagem nasceu com um dom.
Em sua carne, em seu corpo e principalmente em seu sangue corria um poder especial. Ele sabia disso.
E seguindo seus instintos, guiado por sua anatomia e por sua obsessão, chegou até seu destino.
Não sem antes passar por grandes aprendizados e experiências.

No entanto, a cada passo, ele nem sequer pensava no que fazia, não questionava seus atos.
Uma força cega, maior que ele mesmo, o conduzia obstinadamente rumo à lei da sobrevivência, que para ele, significava matar sua fome insaciável de reconhecimento e adoração.
Nunca se sentiu amado de verdade.

Ele completou seu plano egoísta, se surpreendeu insatisfeito e teve um trágico final.
Sua história é fascinante justamente por isso. Não lhe foi dada a possibilidade de reflexão. Sua compulsão era tal, sua neurose era tão arraigada e sobrenatural que questionamos inclusive sua humanidade, daí a graça da história. Mas... E se ele tivesse parado para pensar na consequência de seus atos? E se ele tivesse feito escolhas? E se ele tivesse... Consciência?

Destino impresso, Maktub, ou “estava escrito” pode soar bem fatídico, como se o ser humano realmente não tivesse opção no caminho longo e curvilíneo da vida. E essa é uma questão profunda e complexa. Temos realmente escolha?

Pensando sobre o decorrer das histórias dos livros e das histórias reais, tento perceber até onde a consciência pode interferir no que chamamos, destino. Me vem aquela frase de caminhão na cabeça: “Você faz suas escolhas e suas escolhas fazem você”. Como a sabedoria popular guarda pérolas valiosas do saber mágico, sou inclinada a concordar.

Para mim não há dúvidas que a anatomia e a constituição psicológica, assim como fatores misteriosos que podemos chamar de “aspectos da alma”, são responsáveis por parte de um destino escrito, sim.
Como uma semente potencial que não tem como fugir de brotar o fruto que traz. Mas, se como o personagem, somos guiados apenas por eles, teremos um destino cego, categórico e inevitável.
Se ao contrário, somos capazes de ir além e fazer escolhas conscientes e virtuosas, é possível escrevermos novas linhas e roteiros.

Muitas vezes os caminhos fáceis e cegos nos confundem.
As aparências enganam, o sucesso é relativo, o mundo dá voltas estranhas...
Nunca sabemos bem o que se passa no íntimo das pessoas, mas se essas são vítimas de sua própria compulsão inconsciente, o exterior implacável é bem mais uma compensação de traumas e inseguranças que fruto do acaso. O que não foi resolvido dentro aparece fora como fato, ou melhor dizendo como fatum, a palavra para “destino” em latim.

Como uma marionete nas mãos de fantasmas internos, elas dançam, cantam, acontecem e não medem esforços para seus objetivos. Não percebem a atuação dos co-autores invisíveis que elas mesmas alimentam.
Algumas parecem brilhantes e bem sucedidas, mas não sabem sequer se livrar de sua própria alienação.

Parar tudo e olhar ao redor, olhar para dentro e perceber o livre arbítrio e seu fator sobre o destino é ser um alquimista contemporâneo. Simples, moderno, fino... No entanto, infelizmente, nada comum.
O fatalismo é só pra quem não negocia com suas vozes interiores, pra quem não sente os desígnios de uma força maior que sabe mais que nós mesmos sobre nossa verdadeira natureza.

Saber disso é não precisar mais estar identificado com as tendências, com os movimentos, com a sociedade e com os valores edificados sei lá por quem...  Pensar além dos exemplos ao redor. Conectar por feeling, desconectar por intuição. Saber o que se gosta e o que se é além do que nos ensinaram. Autonomia de princípios.
Obviamente essa ruptura com as ilusões é opcional. Existe um preço e nem todos estão dispostos (ou em condições) de pagar.

Difícil, desafiador, muitas vezes heroico, mas viver na sociedade paralela da individuação é completamente possível, quem sabe até mais fácil que se ver integrado, em comunhão, em “participação mística” como faziam os ancestrais, enquanto a alma grita inquieta lá de dentro: “somos mais que isso”!

E na terra dos independentes, pode-se encontrar várias amizades afins, cada uma no seu mundo. Várias particularidades se encontram, se misturam, sem inveja, sem medo de ser. Novas histórias são escritas. Atemporais, apócrifas, criativas, coloridas, únicas e inesquecíveis.

Sobre a história que me inspirou... Pura ficção, mas espelhada no ultra real. Nem considero importante aqui dizer o nome, afinal de contas, novelas, romances e biografias acontecem a toda hora, e os personagens principais sempre somos nós.