Adoro solstícios e equinócios. Entradas de estações, mudanças de signos cardeais e todo um reflexo encantador no clima e na natureza. Efeitos que nós humanos, a cada dia estamos mais distantes de perceber.
Nem é minha intenção questionar a maravilha que é um banquete seguido de presentes... Mas é no mínimo muito infeliz que o sentido original das celebrações e rituais da natureza tenha ganhado uma aura tão desencantada.
É bastante curioso, para não dizer tragicômico, reparar nas festas de comemoração mundial e perceber que em sua grande maioria, o seu contexto original se baseava em dias em que a natureza e os planetas se correlacionavam de forma importante, principalmente em relação à trajetória solar. Com a super propagação do cristianismo, a igreja mafiosamente preferiu não se opor diretamente à continuidade dessas práticas, mas obviamente elas receberam vários significados adicionais, todos eles devidamente ilustrados com as temáticas cristãs. Ao se apossarem do calendário e lhe enfiarem novas roupagens de acordo com seus interesses, foram fabricando novos símbolos e conquistando milhões de novos adeptos para eles.
Essa manipulação é de domínio público, ou pelo menos deveria ser, mas a falta de consulta à história se encarregou de apagar essa verdade tão dolorosa aos fiéis da nova ordem mundial. Mas eu adoro história, principalmente os registros a.C. Talvez por isso me divirta tanto com os solstícios e equinócios, observando como hoje são vivenciados pelo coletivo.
Isso não quer dizer que eu me recuse a participar ou que seja fundamentalista ao ponto de boicotar todas as festas culturais que restam à humanidade. Me interessa mais que nada, estar consciente de seu significado original, este que se apaga cada vez mais. Já me sinto satisfeita em conhecê-lo, admirá-lo e cultuá-lo. Se não participativamente no mundo da maioria, desde meu silencioso conhecimento arcaico e de minha antiga alminha pagã.
As festas juninas são uma maravilha de retalhos simbólicos. No princípio quando era o Verbo, também era o solstício de câncer, a chegada do verão no hemisfério norte e uma celebração mais conhecida como LITHA. A primavera se despedia e o Sol voltava a brilhar mais forte, poderoso em seu zênite, anunciando a nova estação no dia mais longo do ano. Trata-se de um dos rituais mais importantes dentro do ciclo anual desde o período neolítico, de um culto ao deus Sol de caráter universal e atemporal.
Os pagãos (que significa "habitantes do campo") profundamente conectados com as mudanças climáticas e cíclicas da natureza e mais ainda com sua participação nessa unidade simbiótica com o planeta, festejavam o retorno do Sol com fogueiras, cores vivas, música e comidas.
E assim - após uma reciclagem digamos, cristiana - com esses mesmos materiais básicos, hoje em dia se comemora São Pedro, Santo Antonio e São João. Temos então os três santos do forró e as festas de junho ou juninas.
No Brasil, enquanto quintal e depósito de Portugal, a assimilação foi plena e a população sertaneja foi o terreno perfeito para sua sincretização com as temáticas rurais. Dos jesuítas, direto para o Nordeste, a moda pegou geral. Verão por lá, inverno aqui, não importa. Bora pular fogueira iaiá!
As fogueiras e as fitas coloridas se juntaram às roupas caipiras, às quadrilhas, às comidas típicas e hoje ninguém dispensa um quentão com canjica num arraiá mais próximo. E porque deveria? Todos nós temos lembranças divertidas de alguma época em que nos vestimos com roupas xadrez, chapéus de palha e sentimos aquele cheiro de pólvora tão típico do mês de junho...
Se aproxima o dia de São João, o priminho mais velho de Jesus, também conhecido como o "santo festeiro". Se ele realmente nasceu dia 24 de junho, foi um lindo e meigo canceriano. Que sorte a dele, pois seu aniversário hoje é celebrado mundialmente, pegando carona na antiga festa pagã do solstício de verão. Tudo a ver para quem foi o “precursor da luz no mundo”.
Dizem que quando ele nasceu sua mãe acendeu uma fogueira e no mastro colocou um boneco para que Maria, a mãe de Jesus, soubesse de sua chegada. Também existe em sua história, uma explicação para os fogos de artifício... Interessante, no entanto, foi o artifício de roubar os símbolos da história que vinha antes.
Mas é interessante notar que todos esses símbolos passam por releituras, mas são potentes o suficiente para jamais serem manipuláveis, ainda que por instituições poderosas que tiram proveito do grande poder do inconsciente coletivo. Sua capacidade de manifestação e sua amplitude de interpretações são tão surpreendentes que só mesmo as mentes mais abertas à pluralidade podem dimensionar sua capacidade de seguirem vivos e atuantes no imaginário da espécie humana.
Aí estão as festas juninas abrindo com seus rituais de alegria, festança, comidas e casórios a chegada da nova estação, enquanto a temática canceriana está mais viva que nunca.
Conectados com as raízes, com o passado mais simples e acolhedor, com as origens no campo, estamos automaticamente celebrando símbolos lunares. A boa comida, em pratos típicos que lembram a cozinha da vovó, sempre com algum doce famoso da época, reflete a nutrição, tanto física quanto a emocional tão típica do simbolismo do caranguejo. E as crianças, que sem dúvida são as que mais se divertem, pois a festa é para elas. São elas que atraem os adultos, para uma festa tipicamente familiar, onde as gerações se divertem juntas e reforçam seus laços afetivos e a sensação de proximidade e descendência.
Está tudo aí, em releituras, mas completamente presente.
Quase posso ver o menino João e seu olhar carinhoso, observando tudo lá de cima das fogueiras, perto das estrelas e da Lua Cheia. Quem sabe, com algum adorável filhote nas mãos, símbolo do cordeiro de deus, mas muito antes, da vida nova, do renascimento do Sol e do infalível e abrangente instinto maternal do signo da Grande Mãe...
Um comentário:
Belo texto,adorei a nova psicografia da psico grafias...
E viva Sao Joao! que no meio destas festanças sejamos abençoados com o nosso milharal na direçao da prosperidade.
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